O que o Oriente Médio, Quentim Tarantino, Surf Music, Grécia e Black Eyed Peas têm em comum? Todos acabaram enfeitiçados pela misteriosa melodia de uma ode a uma mulher egípcia. E certamente você, leitor, ao clicar no vídeo abaixo, perceberá que também já cedeu aos feitiços de “Misirlou”, mais conhecida nas gerações mais novas como a música do filme “Pulp Fiction”.
Engenhosamente convertido em Surf Music pelo guitarrista Dick Dale, esse clássico da música mundial tem sua origem na Grécia, em um estilo de música de influência oriental chamado Rebetiko, uma manifestação do folclore turco-grego adaptado à realidade urbana do mesmo modo que o samba é uma adaptação das batucadas africanas. E, assim como nos sambas muito antigos, o real autor da canção é desconhecido, mas a primeira gravação de “Misirlou” surgiu em 1927, por Tetos Demetriades. A letra tratava da paixão do eu-lírico por uma mulher egípcia (misirlou, em grego) de olhos negros e dona de uma beleza exótica e mágica capaz de mudar a vida de um homem em apenas um beijo.
O tema da canção certamente influenciou o compositor a criar a melodia dentro de uma escala arábica, o que acabou arrebatando ouvintes do Oriente Médio todo. “Misirlou” passou a ser incluída em repertórios folclóricos de dança do ventre e de música judaica, sendo por vezes confundida com melodias regionais de países orientais.
Em 1962, o guitarrista Dick Dale reviveu “Misirlou”. De ascendência parcialmente libanesa, ele ouvira a melodia tocada por parentes e, também enfeitiçado, rearranjou a canção, acelerando o tempo e adaptando-a ao rock’n’roll. Sua versão fez um sucesso estrondoso nos Estados Unidos, virando um ícone da surf music e gerando várias versões de outras bandas. A mulher egípcia agora surfava as ondas californianas e invadia a música pop.
Em 1994, a canção ainda foi parte da trilha sonora de “Pulp Fiction”, o clássico de Quentim Tarantino e invadiu o século XXI sampleada na música “Pump it”, do Black Eyed Peas. A mulher egípcia de beleza mística segue arrebatando corações.